Porque lembrar é preciso...

Porque lembrar é preciso...
"Partire è un pó morire", dice l’adagio, ma è meglio partire che morire, aggiunge Carrara. ("Partir é morrer um pouco", diz o adágio, mas é melhor partir do que morrer, retruca Carrara.)

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

A viagem de uma vida: a Itália que nossos antepassados deixaram para trás

 

Quando pensamos na imigração italiana, logo lembramos dos nomes de nossas famílias e das regiões de onde vieram. No meu caso, o coração do Norte da Itália, no final do século XIX.

Mas que Itália era essa que nossos bisavós e tataravós deixaram para trás?

Quando nosso bisavô ou tataravô embarcou num navio com uma mala de vime e um sonho, ele não estava apenas cruzando um oceano. Estava fugindo de uma realidade complexa e, muitas vezes, desesperadora. Entender a Itália daquele tempo não é apenas um exercício de história; é a chave para compreender a coragem, os medos e as motivações que moldaram o início das nossas famílias no Brasil.

Ao contrário do Sul, o Norte não era marcado pela pobreza extrema dos latifúndios, mas por uma crise silenciosa e profunda. A unificação italiana, concluída em 1870, cobrou seu preço: impostos altíssimos para financiar a nova nação pesavam sobre pequenos agricultores e artesãos.

Muitas famílias do Vêneto, por exemplo, trabalhavam em minifúndios e sofriam com a escassez de terras para dividir entre os filhos. Enquanto isso, as cidades, como Milão, começavam sua industrialização, mas não rápido o suficiente para absorver todos.

Foi nesse contexto de esperança contida que a notícia das fazendas de café no Brasil chegou, trazida pelas cartas dos primeiros imigrantes. A promessa de terra própria e um futuro próspero foi o vento que encheu as velas dos navios. A grande esperança: a Mérica.

Eles não eram fugitivos da miséria absoluta, mas sim conquistadores em busca de oportunidade. Deixaram para trás as paisagens dos vinhedos e as planícies não por desespero, mas por uma coragem calculada – a coragem de construir um novo legado sob um céu tropical.

Honrar sua memória é lembrar que nossa família foi construída sobre a base sólida da resiliência e do trabalho desses pioneiros.