Porque lembrar é preciso...

Porque lembrar é preciso...
"Partire è un pó morire", dice l’adagio, ma è meglio partire che morire, aggiunge Carrara. ("Partir é morrer um pouco", diz o adágio, mas é melhor partir do que morrer, retruca Carrara.)

sábado, 28 de agosto de 2010

Ramoscelli intrecciati (ramos entrelaçados)


Eu inventei de brincar de árvore genealógica e comecei a montar uma num site que encontrei na net (www.myheritage.com.br/site-family-tree-99872073/familia-delma-maiochi). Achei que seria uma boa ideia colocar em ordem as datas e nomes que tinha espalhado em pequenos papéis enfiados na minha pasta "dos antigos"... poxa, e não é que tava dando certo!? Os galhos floresciam e as folhas ficavam suculentas de informações.

Foi então que comecei a reparar que tinha uma boa quantidade de nomes repetidos...

Pensei: putz, já fiz cáca, coloquei duas vezes a mesma pessoa em lugares diferentes. E dá-lhe conferência... mas estava tudo certo. Aí entendi que, obviamente, os casais tendiam a se repetir nos galhos familiares quando dois irmãos casavam-se com duas irmãs... até aí tudo bem. Mas, o fato ocorria com uma frequência estranha e resolvi checar melhor. Então, pasmem, descobri que meus familiares são mais "collegati" (conectados) que eu imaginava. O entrelaçamento entre os membros da mesma família é algo surpreendente. Chega a ser confuso o emaranhado de um mesmo sobrenome. Na certidão de casamento de minha bisavó Sophia apenas o tabelião não era Passoni. Quer dizer, isso porque eu não procurei mais profundamente, vai saber? Tenho a impressão que se um de nós precisar de transplante de medula (livra-nos desse mal) vai encontrar vários bons doadores debaixo do mesmo teto.

Vou lançar um desafio pra minha bióloga-de-plantão Elisa: que tal descobrir a semelhança de nossos tipos sanguineos? Ei, Elisa, dá até uma tese de mestrado!!!
Nesse esmiuçar de galhos ancestrais pude constatar como somos próximos (em sangue e certidões). Um verdadeiro ajuntamento, ousaria dizer que, com o perdão dos puristas, somos uma "etnia" não mais muito agrupada. Não tem como olhar para meus parentes sem enxergar a longa e espessa árvore que nos une.
E também isso me ajudou a entender a alegria de "pertencer". Não posso mais sentar no colo da bisa Sophia, nem abraçar o bisa Amilcare, muito menos vou poder dizer: como é bom ter seu sobrenome, nono Luiz. Mas, posso ainda desfrutar do colo da minha mãe, do beijo da tia Antonia, dos abraços dos meus inúmeros "pimos e pimas". Eles representam vivamente essa conexão com meus antepassados, fortes no sentimento de afinidade e de pertença. Fazemos parte um do outro, os bisnonos se encarregaram de dar início à construção de nossas identidades, encadeando os genes e, principalmente, os sobrenomes.


Confiram comigo o "cipó" que nos permitiu nascer. E ainda não cheguei nem na metade, porque o cérebro dá nó, acreditem!


Passoni - Sophia casou-se com seu primo Luiz. O filho Ambrósio casou-se com a prima Estela. A filha Maria casou-se com o primo Santo (irmão de Estela). A filha Roza casou-se com o primo André. Então, todos os cônjuges dos filhos, que já eram sobrinhos, tornaram-se genros e noras do casal Sophia e Luiz. Todos eles são meus tios-avós. Duas vezes!!

Nicola - A filha de Sophia e Luiz, Tereza Passoni, casou-se com Ernesto Nicola. Ernesto era irmão de João, que se casou com Diamanta Passoni, que era sobrinha de Sophia. Portanto, Diamanta tornou-se, além de prima, cunhada de Tereza. A Diamanta seria minha tia-avó e também uma prima de uns graus (se fosse etílico estaria bêbada).


Maiochi - Maria Maiochi, irmã de meu pai José, casou-se com Paschoal Passoni. Paschoal era tio de minha mãe Idalina. Maria, então, era ao mesmo tempo tia e cunhada de minha mãe. E a relação comigo? Hummm... tia duas vezes? três vezes? Deve ser por isso que gostava tanto dela...
Meu pai José Maiochi casou-se com minha mãe Idalina Nicola. O irmão dele, Roque, casou-se com a irmã de minha mãe, Lourdes. A irmã de meu pai, Antonia, casou-se com o irmão de minha mãe, Luiz. Dava troca de bebê na maternidade, não dava?

Capisci quello che digo?

domingo, 8 de agosto de 2010

...eu nasci no mês de agosto, mês da flor do ipê...



Agosto é mês de aniversários em minha família. E a abertura das comemorações, até onde eu saiba, começa com a Leila. Aquela que jogava água no bumbum do nono e levava choque no dedinho por causa do irmão. Ela nasceu num dia dos pais e realmente foi a alegria da casa. Chegava uma menina. Tia Lourdes tirou da memória o nome Leila (que em árabe significa negra como a noite) antes de olhar a brancura de leite que era sua filha. E ainda complementou com o religioso Fátima, em honra d'Aquela que a amparou no parto. Tio Roque deu o sobrenome e estava completa a criatura mais falante que eu conheci. A nona Angela não teve a oportunidade de colocar a Leila debaixo da cama, como fizera com o Zé, pois já tinha ido embora pro céu. Ela dizia que pôr o bebê debaixo da cama fazia ele ficar calmo na vida. Hummmm.... sei não! Nunca saberemos se ia dar certo com a minha elétrica prima. Inquietação é seu sinônimo, sempre falando, fazendo alguma coisa, se movimentando. E tudo acompanhado de sorrisos e bom humor, outra característica marcante da nossa "negra como a noite".
E, assim, há 45 anos ela enfeita a árvore genealógica de minha família. Sempre de pé em cima do "galho", falando e sorrindo pra deus-e-o-mundo.
Parabéns, Leila! Que a vida te seja sempre de oportunidades.
Ah, antes que eu me esqueça: quem ajudou o padre a jogar água na cabeça daquela menina que esperneava na hora do batismo foi o tio César e a tia Venilda.
E, Leila, o Drummond mandou um recado: "São mitos de calendário/tanto o ontem como o agora,/e o teu aniversário/é um nascer a toda hora."

Beijo embrulhado em abraço nos ventos e ipês de agosto.

Patriarchi (patriarcas)


Amilcare Maiochi, Luigi Da Re, Luigi Nicola, Antonio Passoni, Francesco Braido, Antonio Cancian... nossos primeiros pais, patriarcas de nossa grande família, essa árvore de galhos grossos e inúmeras folhas. Reverenciamos sua memória neste dia considerado o dos pais. Deles herdamos o sangue, os genes, a raça, a determinação de cruzar o oceano, a coragem de deixar as origens e construir nova vida num lugar estranho. Deles herdamos o suor na plantação, as mãos nodosas, a alegria e o cansaço da lida no fim de tarde.
Deles herdamos o cheiro da florada do café, a bênção da chuva e o calor do sol na arrebentação dos frutos, o choro do carro de boi, a aspereza da palha do milho, as grandes caminhadas entre as fazendas.
Com eles herdamos o direito de estar nesta terra, de constituir família, de dar continuidade a sua descendência. Esses nossos pais não são lembrados em monumentos, estátuas e, alguns, nem mesmo em fotos. Mas os guardamos em nossa memória e sentimos, num fechar de olhos, suas mãos abençoando nossas cabeças...