Porque lembrar é preciso...

Porque lembrar é preciso...
"Partire è un pó morire", dice l’adagio, ma è meglio partire che morire, aggiunge Carrara. ("Partir é morrer um pouco", diz o adágio, mas é melhor partir do que morrer, retruca Carrara.)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

“Não há amor sem coragem” – a história com final feliz de Romeu e Julieta em São Roque

O domingo daquele mês de julho amanheceu frio e parecia até que tinha geado um pouco. Mas logo o sol tomou conta da paisagem e todos puderam desfrutar do dia de folga. Desde logo cedo o coração de Lúcia estava apertado e sua mente só pensava no que ia acontecer logo mais à tarde. Apesar de ter combinado tudo com o noivo Manoel, ainda ficava apreensiva de que alguma coisa não desse certo. Será que ele tinha falado com o motorista? Será que ela devia levar uma troca de roupa? Não, isso não. Poderia levantar suspeita e nem seu pai nem sua mãe podiam saber que os dois planejavam fugir para casar. E agora que eles tinham resolvido, o melhor era ficar calma e rezar pra que tudo desse certo. Aliás, era o que ela mais faria na missa das 5h... pedir a proteção de Nossa Senhora.
O dia passou lento e parecia que o sino da igreja não ia tocar nunca chamando os fiéis para a celebração. Finalmente, despediu-se da mãe e, com os olhos cheios d’água, tomou o rumo da igreja. Seu destino começava a ser selado...
Essa história real, que eu pintei com algumas cores imaginárias, pertence ao coração da minha prima Lúcia Nicola e de seu esposo (já falecido) Manoel Esteves. Eles moravam em São Roque da Fartura quando se conheceram e se gostaram. Namoraram durante oito anos, faziam planos de casamento, até já tinham comprado alguns móveis.
Mas alguns empecilhos familiares impediam que os dois concretizassem o sonho do matrimônio. Assim, foram deixando os anos passarem até que sentiram que não dava mais para esperar. Planejaram fugir para se casar em Águas da Prata e o fizeram naquele domingo depois da missa. Tinham certeza do amor que os unia, porque era uma decisão sem volta. Uma vez que o pequeno povoado descobrisse a fuga seria um escândalo se não oficializassem a união. Chegando a Águas da Prata, hospedaram-se no hotel São Paulo e se prepararam para a noite mais longa de suas vidas. Estavam sozinhos, mas era como se não estivessem... os olhares dos pais assombravam as paredes do pequeno quarto e os deixava inquietos. O amanhecer os encontrou de olhos abertos, cansados de andar de um canto a outro, de espiar a janela pra ver se alguém chegava pra buscá-los. E vieram. O pai dela e o pai dele tinham ido cumprir a última parte do ritual de fuga: acompanhar os dois até o cartório e assinar o documento que finalmente os libertaria do eterno namoro e os tornaria unidos para sempre.
E assim foi... 1º de agosto de 1967... Lúcia e Manoel desenharam suas assinaturas com mãos trêmulas naquele livro de registro que também guardava outras histórias como a deles. E, diferentes de Romeu e Julieta de Shakespeare, viveram felizes enquanto puderam.
Assim, eu chego à conclusão que a família Nicola pode não ter certeza de seu sobrenome, mas de coragem para viver amor e romance... ah... disso entendemos muito bem.

3 comentários:

  1. A história é linda. Você já havia me contado, mas em forma de texto ficou ainda mais doce. Pena ter deixado de fora a importante explicação da cena coadjuvante do motorista especializado em fugas de casais apaixonados (é a minha parte favorita). Em contrapartida adorei essa introdução onde Nossa Senhora entra de cúmplice no plano de fuga (rs). Amei, Delminha! AMEIIIIII...

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  2. Pena que não estavamos lá pra dar uma força, né? Mas que coragem a Lúcia teve, hein? Quem olha aquela carinha não consegue imaginar que ela faria algo assim tão surprendente. Aí Lúcia, valeu. Gostei da tua intrepidez. O que o amor não faz!!!!!!! Delma amei a "colorida" que vc deu na história e fico imaginando o que eles conversaram a noite toda. O coração quase saindo pela boca. Também amei a história.

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  3. Puxa vida to de cara com a Lucia! Nunca fiquei sabendo desta história tão fantástica, eu ja gostava dela agora admiro porque ter esta coragem a 43 anos atrás não é qualquer um não. Lucia parabens por ter lutado pelo seu amor um grande beijo de sua prima Angela

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