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| Banquinho em que Júlia Maiochi Zanetti sentava para amamentar (feito pelo esposo Antônio) |
terça-feira, 11 de novembro de 2025
Pequenas conversas familiares
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Pequenas conversas familiares
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| Panela de fazer polenta da avó Ângela Da Ré |
Como parte das memórias de família, inicio aqui uma série de breves entrevistas com parentes. Quem abre essa jornada é Ângela Teresa Migot, que relembra as tradições, valores e lembranças herdadas de seus pais (Antônia Maiochi e Luiz Nicola) e avós italianos. Histórias que ajudam a manter viva a identidade e a alegria de nossas origens.
Para você, o que significa ser descendente de italianos hoje
em dia?
Ser descendente de italianos, para mim, significa ser muito
alegre, comer muito, ser trabalhador, e ser de família grande.
Tem alguma tradição italiana que você gostaria que a nossa
família mantivesse viva?
Celebrar nas grandes festas do ano, com muita comida,
bebida, dar boas risadas, falar alto como se fosse uma briga.
Se você pudesse fazer uma pergunta para o nosso antepassado
que imigrou, o que você perguntaria?
Perguntaria se valeu a pena ter vindo para esta terra, e
como ficaram as pessoas queridas que não vieram?
Qual é a sua comida italiana favorita da família, e o que
ela te faz sentir?
A comida preferida é a “polenta”, que me faz lembrar
histórias de minha mãe, este alimento tão abençoado que alimentava a enorme
família de meus nonos.
Se você pudesse visitar hoje a cidade na Itália de onde
nossos antepassados vieram, o que você acha que sentiria ao chegar lá?
Voltando às origens, sentiria um misto de angústia e
tristeza, porque eles não saíram para dar um passeio qualquer, mas tiveram que
deixar suas tradições, amigos, raízes, para enfrentar uma terra nova
desconhecida. Há de ter sido um sofrimento muito grande.
Tem alguma expressão, palavra em italiano ou dialeto que
você conheça e que a família ainda usa sem perceber?
Expressões que se usava e até hoje: Dio bono; Dio keko.
O que você acha que herdamos de 'jeito italiano' no nosso
jeito de ser?
Herdamos a alegria, falar alto com gestos, rir muito alto.
Tem algum objeto em casa que pra você representa essa nossa herança?
Tenho uma panela, que minha mãe contava, que a nona fazia as
refeições (muito arroz). E também um grande caldeirão, que preparava gordura de
porco e torresmos.
O que você acha que os italianos que vieram para o Brasil
sentiriam ao ver nossa família hoje?
Hoje eles ficariam decepcionados e tristes com a crença,
seria difícil entender as mudanças da religião dentro da família.
Você já imaginou como seria sua vida se a nossa família
nunca tivesse saído da Itália?
Teria uma vida normal, com todas as virtudes da época. De
bem com a vida, muito vinho, massas e cuidando sempre da vida alheia.
O que você gostaria que os filhos ou sobrinhos soubessem
sobre a nossa origem italiana?
Que nossos antepassados foram valentes, época de fome,
doenças, e guerras, e também nossos pais, estavam saindo da escravidão, ocasião
em que a imigração foi incentivada para substituição de mão de obra rural.
Se você pudesse ensinar uma única tradição italiana para
todos os seus amigos, qual seria e por quê?
Uma tradição que mais me marcou: a família, e os parentes,
sempre unidos, nas comemorações e festividades (sempre festas religiosas) e
também nos casamentos, aniversários, batizados, tudo com muitos assados, e
vinhos, e bastante alegria.
(Ângela Teresa Migot é filha de Antônia Maiochi e Luís
Nicola, casada com Antônio Migot)
quinta-feira, 30 de outubro de 2025
A viagem de uma vida: a Itália que nossos antepassados deixaram para trás
Quando pensamos na imigração italiana, logo lembramos dos nomes de nossas famílias e das regiões de onde vieram. No meu caso, o coração do Norte da Itália, no final do século XIX.
Mas que Itália era essa que nossos bisavós e tataravós
deixaram para trás?
Quando nosso bisavô ou tataravô embarcou num navio com uma
mala de vime e um sonho, ele não estava apenas cruzando um oceano. Estava
fugindo de uma realidade complexa e, muitas vezes, desesperadora. Entender a
Itália daquele tempo não é apenas um exercício de história; é a chave para
compreender a coragem, os medos e as motivações que moldaram o início das nossas
famílias no Brasil.
Ao contrário do Sul, o Norte não era marcado pela pobreza
extrema dos latifúndios, mas por uma crise silenciosa e profunda. A
unificação italiana, concluída em 1870, cobrou seu preço: impostos altíssimos
para financiar a nova nação pesavam sobre pequenos agricultores e artesãos.
Muitas famílias do Vêneto, por exemplo, trabalhavam em
minifúndios e sofriam com a escassez de terras para dividir entre os filhos.
Enquanto isso, as cidades, como Milão, começavam sua industrialização, mas não
rápido o suficiente para absorver todos.
Foi nesse contexto de esperança contida que a
notícia das fazendas de café no Brasil chegou, trazida pelas cartas dos
primeiros imigrantes. A promessa de terra própria e um futuro próspero foi o
vento que encheu as velas dos navios. A grande esperança: a Mérica.
Eles não eram fugitivos da miséria absoluta, mas sim conquistadores
em busca de oportunidade. Deixaram para trás as paisagens dos vinhedos e as
planícies não por desespero, mas por uma coragem calculada – a coragem de
construir um novo legado sob um céu tropical.
Honrar sua memória é lembrar que nossa família foi
construída sobre a base sólida da resiliência e do trabalho desses pioneiros.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2021
Preghiera
Depois
de tanto tempo sem postar por aqui, consegui fazê-lo (confesso que não sei como,
pois tinha perdido a senha e não conseguia recuperar).
Tenho umas histórias guardadas na gaveta da memória e do computador, que logo vão se transformar em postagens para este blog. Mas, hoje, nesta terça-feira de carnaval-sem-folia, quero repartir com minha família um achado que me foi dado pelo Rafael Zanetti (moço maluco que adora genealogia e é parente de longe, mas não muito). Ele generosamente me mostrou uma oração que era rezada pela família Zanetti. Antes, preciso dizer que descobrimos (eu e Chico) os parentescos com os Zanetti, ligados a minha bisnona Santa Zanetti (nascida Santa Matilde), casada com o bisnono Luigi Da Ré. Segundo o Rafael, a irmã dela Elisabetta (sim, ela tinha muitos irmãos) costumava rezar essa prece, portanto, deve ter aprendido com os pais. Assim, as palavras bentas podem nos servir de estímulo para relembrar a memória espiritual destas mulheres, que além de todas as tarefas diárias, também juntavam as mãos e os familiares para pedir bênçãos. Porque a vida não era fácil.
Oração da família Zanette (rezada por Elisabetta Zanetti
Camilot) e provavelmente pela bisnona Santa e o biso Luigi, porque ele era das preces e espiritualidades.
Buon Dio, signore Dio, Madonna
Benedetta
Tutti i buoni cristiani che mi han dato questa notte
Domando grazia, Signore, dammi anche un buongiorno se a
Dio e Maria piaccia.
Gesù, Giuseppe e Maria vi dono il cuore e l'anima mia
Gesù bambino, ami così.
Ecco,Signore Dio, (la) nostra famiglia è con voi.
(Bom Deus, Senhor Deus, Santíssima Madona
Todos os bons cristãos que me deram esta noite
Peço graça, Senhor, dê-me também um bom dia se Deus e
Maria gostarem.
Jesus, José e Maria eu te dou meu coração e minha alma
Menino Jesus, você ama assim.
Eis, Senhor Deus, nossa família está com você)
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
"il dichiarante" (o declarante) - texto de Francisco Braido
Nas nossas conversas era comum a nona mencionar algumas famílias, como os Mapelli, Dal'ava, Bruschi, entre outras.
De todos lembrados por ela, até hoje nunca esqueci a ênfase destinada aos Mapelli. Talvez, porque a família Passoni mantinha com eles estreitos laços de amizade e união.
Quando iniciamos a busca de nossos parentes, eu e a prima Delma,
também nascida Passoni Maiochi, mas que no fundo tem o sonho de ser Braido, nos deparamos com situações, no mínimo, curiosas e engraçadas.
Jamais poderia imaginar que um cidadão Mapelli exercia um encargo tão nobre na época: ser declarante e testemunha dos inúmeros nascimentos, batizados e casamentos ocorridos nas fazendas. Seu nome era Luiz.
Na maioria dos assentos da família Passoni (e até dos De Ponti/Nicola), encontramos: Declarante o
senhor Luiz Mapelli; Testemunha Luiz Mapelli; Padrinhos Luiz Mapelli e esposa.
Delma e eu nos encontramos semanalmente para dividir descobertas, e até mesmo para tratar de coisa séria, tudo isso regado a muito café. Ela é bem mais organizada que eu, e quando lança de sua bolsa seus cadernos de anotações, sai de baixo! Muitos registros aparecem, consequentemente, o nosso declarante preferido também.
Ao imaginar como deveria ser, as brincadeiras surgem. Ficamos imaginando como seria a conversa antes de chegar ao cartório. O sr. Luiz Mapelli, na porteira, com o seu "papelli", olhando
para seu relógio de bolso, imaginando se havia nascido alguém naquele dia, para que ele pudesse ir ao cartório e fazer o registro. Ou então, ele indo até a casa dos vizinhos dizendo, com aquele sotaque italiano pouco inteligível: "ô cumpadi nasceu quantos aí? Já registrou? Mas, pelo tanto de assentos que aparecem seu nome, surgiu até a possibilidade dele ter uma mesa cativa no cartório para que sempre fosse o declarante.
Os registros naquela época eram feitos "por pacotes". Depois de nascidos dois, três, quatro filhos é que se lembrava que era necessário registrar. Aproveitava-se a ida de alguém ao cartório e essa pessoa levava o encargo de registrar todos de uma vez. É assim que o nome de Luiz Mapelli aparece seguidas vezes em vários registros de igreja ou cartório. Recentemente, encontramos em São Sebastião da Grama seu último descanso. Tomara que em seu óbito conste como declarante um dos Passoni, numa sincera troca de favores. O último. Portanto, sr. Luiz, registro aqui uma singela homenagem ao seu trabalho de deixar documentado os acontecimentos de nossa família. Assim, nos foi possível encontrá-los e recontar suas histórias.
Ao cartório, cumpra-se!
Livros antigos do cartório de Caconde-SP
domingo, 10 de outubro de 2010
O vestido do caminho
O que pode ser quase tão importante para uma moça quanto um vestido de noiva? Para as jovens que moravam nas fazendas outra peça de roupa era pensada e produzida com igual carinho para o grande dia: o vestido do caminho.O ritual do dia do casamento na zona rural, no tempo jovem de minha mãe e tias, era muito parecido com o das noivas da cidade. Exceto que as moças das fazendas precisavam fazer um longo caminho até a igreja. O transporte costumava ser cavalo, charrete, caminhão, às vezes até a pé. Na estrada, muita poeira ou barro. Não dava pra colocar o vestido de noiva em casa. Para transpor o último trecho que separava a menina-moça da mulher-casada era usado o ‘vestido do caminho’.
Eu imagino as conversas entre a noiva e as primas e amigas, enquanto capinavam as ruas de café ou mesmo no longo trecho para levar o almoço aos que tinham madrugado na lavoura. O tecido, a cor, os detalhes, botões, bordados... um pouco de ternura no meio do trabalho e da difícil lida da roça.
Minha mãe me disse que o vestido dela era cor-de-rosa com pregas, de seda. Quem costurou foi Inês Mapelli, que morava no Campestrinho. Soutien e calcinha, bordados, eram feitos em casa. Depois, a roupa foi usada para ir a algum passeio ou ocasião especial.
Tia Antonia lembrou que o dela, também cor-de-rosa, foi feito pela sua tia Henriqueta Da Ré. O destino dele foram as missas de domingo.
Seda, tafetá, véu e grinalda, flores de laranjeira (acreditem, eram de verdade, colhidas no pomar quando a estação permitia), sapato novo, alianças... delicadezas de moças, sonhos de meninas, momentos cor-de-rosa em meio às cruezas da existência. E ainda, supremo luxo, com direito a meia de seda fina.
Ao colocar o vestido do caminho, a moça sabia que sua vida estava mudando. A roupa nova era o início de outras responsabilidades, tarefas e comprometimentos. O espelho refletia pela última vez a menina, que voltaria mulher, ainda naquele mesmo dia, para a casa do marido.
sábado, 4 de setembro de 2010
A partilha

A Thereza restaram a dor, as lágrimas, a solidão e nove pares de olhos que buscavam entender o que acontecia. O que fazer para o sustento de todos?
Depois de muito pensar Thereza chegou à única, e dolorosa, decisão que poderia tomar: deixar os filhos com os cunhados e a sogra (minha bisavó Sophia). Ao menos ficariam resguardados e poderiam crescer em segurança.
E assim foi feito. Pelo que me contam a partilha da família Passoni-Zaghi ficou assim: Osmídia foi criada pelo meu tio-avô Isidoro, Maura pelo André Passoni, Iracema e Isaura pelo meu tio-avô Ambrósio Passoni, Isolina pela Leontina, Zeca pelo meu tio Luiz Nicola, Mané pelo meu tio-avô Paschoal Passoni, Benedito pelo meu avô Ernesto Nicola. Da filha Aurora não tenho conhecimento.
No assento de óbito de Alfredo consta que ele não deixava bens a inventariar. Mas tenho certeza que Thereza não pensava assim. Os bens mais preciosos que os dois podiam ter precisaram ser "partilhados". Quem os recebeu herdou um "pedaço" do ente querido que tinha partido. Quem os entregou morreu um pouco a cada despedida. Nem gosto de imaginar o último olhar da mãe para o filho que deixava. Portas se abriam em acolhida e seu coração se trancava na tristeza.
Eu não tenho os detalhes desta história, sempre a ouvi da maneira que descrevi. Ninguém me contou como foi para aquela mulher perder a família inteira num piscar de olhos. Quantas noites passou sem dormir naquela cama vazia de Alfredo e cheia de aflições. Corajosa tia Thereza! Ela foi embora da fazenda, parece que para São Paulo, junto com uma das filhas. Não se soube mais dela. Há uns dias o Chico me disse que ela tinha falecido em Vinhedo em 1981. Longos 36 anos depois foi se encontrar com Alfredo. Finalmente pode descansar a cabeça em seu ombro se sentir reconfortada.
sábado, 28 de agosto de 2010
Ramoscelli intrecciati (ramos entrelaçados)

Nesse esmiuçar de galhos ancestrais pude constatar como somos próximos (em sangue e certidões). Um verdadeiro ajuntamento, ousaria dizer que, com o perdão dos puristas, somos uma "etnia" não mais muito agrupada. Não tem como olhar para meus parentes sem enxergar a longa e espessa árvore que nos une.
E também isso me ajudou a entender a alegria de "pertencer". Não posso mais sentar no colo da bisa Sophia, nem abraçar o bisa Amilcare, muito menos vou poder dizer: como é bom ter seu sobrenome, nono Luiz. Mas, posso ainda desfrutar do colo da minha mãe, do beijo da tia Antonia, dos abraços dos meus inúmeros "pimos e pimas". Eles representam vivamente essa conexão com meus antepassados, fortes no sentimento de afinidade e de pertença. Fazemos parte um do outro, os bisnonos se encarregaram de dar início à construção de nossas identidades, encadeando os genes e, principalmente, os sobrenomes.
Confiram comigo o "cipó" que nos permitiu nascer. E ainda não cheguei nem na metade, porque o cérebro dá nó, acreditem!
Meu pai José Maiochi casou-se com minha mãe Idalina Nicola. O irmão dele, Roque, casou-se com a irmã de minha mãe, Lourdes. A irmã de meu pai, Antonia, casou-se com o irmão de minha mãe, Luiz. Dava troca de bebê na maternidade, não dava?
domingo, 8 de agosto de 2010
...eu nasci no mês de agosto, mês da flor do ipê...
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E, assim, há 45 anos ela enfeita a árvore genealógica de minha família. Sempre de pé em cima do "galho", falando e sorrindo pra deus-e-o-mundo.
Parabéns, Leila! Que a vida te seja sempre de oportunidades.
Ah, antes que eu me esqueça: quem ajudou o padre a jogar água na cabeça daquela menina que esperneava na hora do batismo foi o tio César e a tia Venilda.
E, Leila, o Drummond mandou um recado: "São mitos de calendário/tanto o ontem como o agora,/e o teu aniversário/é um nascer a toda hora."
Patriarchi (patriarcas)

Deles herdamos o cheiro da florada do café, a bênção da chuva e o calor do sol na arrebentação dos frutos, o choro do carro de boi, a aspereza da palha do milho, as grandes caminhadas entre as fazendas.
Com eles herdamos o direito de estar nesta terra, de constituir família, de dar continuidade a sua descendência. Esses nossos pais não são lembrados em monumentos, estátuas e, alguns, nem mesmo em fotos. Mas os guardamos em nossa memória e sentimos, num fechar de olhos, suas mãos abençoando nossas cabeças...
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Foi-se o Zé

O menino sapeca morreu. Aquele que arrastava o saquinho de pão na enxurrada em frente da igreja da Vila Cruz. Aquele que mesmo de castigo comia as bananas que a mãe tentava deixar amadurecer. Era meio parente de Pedro Malasartes... empurrava a irmã pequena na escada, colocava o dedinho dela no soquete que dava choque... Era o terror da rua...
Mas tinha o coração grande de ternura. Subia na jabuticabeira pra apanhar as frutas grandonas pra mim. Ele sabia que a prima gordinha não conseguia chegar nos galhos mais altos. Na brincadeira de pique-esconde sempre me mostrava um lugar mais difícil de ser encontrada naquele grande quintal cheio de pés de milho.
E nunca me deixou voltar pra casa sozinha dos bailes e festinhas... tomava conta da prima adolescente como se fosse a irmã.
O menino sapeca morreu. Mas deixou para a vida a Vanessa, a Jaqueline, o Diego, o Gustavo e o Bryan.
Uma pequena grande família para guardar a sua memória e descendência.
Ele foi sepultado junto aos seus. A mãe, o tio Zé, a tia Maria, o tio Paschoal, os avós e a pequena Bia. Muito bem acompanhado para não perder o caminho que nos faz chegar ao outro lado. Pra nós, a saudade. Pra ele, um recomeço.
E como diz o pequeno neto Gustavo: ‘o vovô Zé virou estrela e o vento levou ele lá pra cima’.
Então, toda noite estrelada vai ser momento de encontro a partir de agora.
domingo, 18 de julho de 2010
Saudade

O poeta Tagore diz que a fé é o pássaro que sente a luz e canta quando a madrugada é ainda escura.Eu sei que meu pai já viu a claridade do amanhecer de outro lugar e que sua fé o acompanhou na transmutação da vida. Só o que não sei é o que fazer com sua falta, com a saudade que não fica amenizada nem um pouco com o tempo que passa...
"Entre a vida e a morte há apenas
o simples fenômeno
de uma sutil transformação.
A morte
não é morte da vida.
A morte não é inação, inutilidade.
A morte é apenas a face obscura,
mínima, em gestação
de uma viagem que não cessa de ser.
Aventura prolongada
desde o porão do tempo (...)
A morte não é morte da vida: apenas
novas formas de vida.
Nova utilidade.
Outro papel a desempenhar
no palco velocíssimo do mundo.
Novo ser-se e não se pertencer.
Nova claridade, respiração, naufrágio
na máquina incomparável do universo."
(Vida Sempre - Casimiro de Brito)
domingo, 11 de julho de 2010
Tenho saudade da minha infância (texto de Vânia A. Nicola de Ponti de Oliveira Brito)

Mais que avós, eles foram meus pais. O tempo da infância na casa ao lado da bica d’água foi feliz, com direito a canequinha de alumínio para apanhar amora e chupar laranja-lima no pé.
Meu avô era bravo, carrancudo, mas o coração tinha gestos amorosos, como o de colocar capim na sala para o ‘burrinho’ do papai Noel e deixar lá um presente de Natal.
Eu era a princesa paparicada, talvez por ser a mais velha dos irmãos (Donizeti e Paulinho) e também a única neta, filha da única filha Terezinha.
Fiquei com a vó Joana até meus 10 anos, quando meus pais se mudaram para Vargem Grande do Sul. Naquele dia de despedidas ela chorou muito. Eu também.
Vô Maurilio era um homem muito bom. Numa época em que meu pai (Edson Lopes) viajava bastante, ficava meses fora de casa, ele e vó Joana foram a nossa base para nossa educação e formação.
Depois crescemos, mudamos para Poços, casamos, tivemos filhos. Mas vô e vó sempre foram referências.
Anos mais tarde, quando eles vinham nos visitar, principalmente na época de Finados, vó Joana trazia uma linda cesta de palmas que plantava especialmente para a ocasião. Enfeitava com carinho o túmulo dos pais dela (Angelo Facci e Adelia Rossi) no cemitério da saudade, que ainda visitamos e cuidamos. E meu avô, achando que a gente continuava criança, nunca se esquecia de trazer doces.
Hoje, aos 46 anos, família formada, me pego pensando nos bons tempos em que podia sentar no colo dos avós.
São tantas as lembranças boas deles que se fosse escrever todas daria um livro. E dos bonitos. Sinto muita saudade, mas ficaram as lembranças daquele tempo bem guardadas na memória e no coração.
Então, aproveito esse espaço que a Delma criou pra nossa família e deixo o meu carinho para meus pais, meus irmãos e, principalmente, meus queridos avós. Agradeço também a tia Idalina, que tanto nos ajudou quando mudamos pra cá. A Delma é uma pessoa muito querida pra mim, é minha amiga e minha prima. Quantas vezes saímos juntas e depois dormia na casa dela (lembra Delma?).
Temos, eu e meus irmãos, muito orgulho de pertencer aos Nicola e sermos netos do vô Maurilio. Eu e meu marido (Marcio) sempre ensinamos nossas meninas Jéssica e Mariana que não podemos esquecer nossas verdadeiras raízes.
E estamos aí para o que der e vier, esta frase é bem a minha cara mesmo. Estamos aí vida, vamos enfrentar todos os problemas de cabeça erguida! Abraços a todos!
"E amizade dada é amor." (Guimarães Rosa) Para o dia de anos do Daniel

sábado, 10 de julho de 2010
e il nome è... (e o nome é...)
Foi assim quando recebi a certidão de nascimento do meu nono Luigi Maiochi. Lá estava um Mario inesperado e completamente desconhecido. Virei pro meu pai: você sabia que seu pai chamava Mário? E ele me olhou, inocente: Não! Ele chamava Mário? Acho que ele também não sabia.
Tive que rir.
Agora, há menos de uma semana, o Francisco (primo Chico pros familiares) me vem com mais uma novidade. Olhando a certidão de óbito do nosso bisavô Amilcare, pai do Luigi-que-também-era-Mário, percebeu que havia uma anotação judicial corrigindo o registro. O Chico conseguiu desencavar o documento de batismo do bisnono e então soubemos seu verdadeiro nome, além do lugar correto de nascimento e os pais.
Ele nasceu em Romprezzagno, município de Tornata, província de Cremona, Lombardia, Itália, em 29 de janeiro de 1862 e foi batizado no dia 30 de janeiro de 1862. Seus pais Giuseppe Maiocchi e Rosa Galetti escolheram chamar o nosso bisnono de Amilcare Francesco Maria Maiocchi. E fizeram um pacto com o padre Bruno Frassi, da pequena igreja de San Francesco: nessuno saprà il nome del bambino (ninguém iria ficar sabendo o nome do menino)... nem ele.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
“Não há amor sem coragem” – a história com final feliz de Romeu e Julieta em São Roque
O dia passou lento e parecia que o sino da igreja não ia tocar nunca chamando os fiéis para a celebração. Finalmente, despediu-se da mãe e, com os olhos cheios d’água, tomou o rumo da igreja. Seu destino começava a ser selado...
Essa história real, que eu pintei com algumas cores imaginárias, pertence ao coração da minha prima Lúcia Nicola e de seu esposo (já falecido) Manoel Esteves. Eles moravam em São Roque da Fartura quando se conheceram e se gostaram. Namoraram durante oito anos, faziam planos de casamento, até já tinham comprado alguns móveis.
Mas alguns empecilhos familiares impediam que os dois concretizassem o sonho do matrimônio. Assim, foram deixando os anos passarem até que sentiram que não dava mais para esperar. Planejaram fugir para se casar em Águas da Prata e o fizeram naquele domingo depois da missa. Tinham certeza do amor que os unia, porque era uma decisão sem volta. Uma vez que o pequeno povoado descobrisse a fuga seria um escândalo se não oficializassem a união. Chegando a Águas da Prata, hospedaram-se no hotel São Paulo e se prepararam para a noite mais longa de suas vidas. Estavam sozinhos, mas era como se não estivessem... os olhares dos pais assombravam as paredes do pequeno quarto e os deixava inquietos. O amanhecer os encontrou de olhos abertos, cansados de andar de um canto a outro, de espiar a janela pra ver se alguém chegava pra buscá-los. E vieram. O pai dela e o pai dele tinham ido cumprir a última parte do ritual de fuga: acompanhar os dois até o cartório e assinar o documento que finalmente os libertaria do eterno namoro e os tornaria unidos para sempre.
E assim foi... 1º de agosto de 1967... Lúcia e Manoel desenharam suas assinaturas com mãos trêmulas naquele livro de registro que também guardava outras histórias como a deles. E, diferentes de Romeu e Julieta de Shakespeare, viveram felizes enquanto puderam.
Assim, eu chego à conclusão que a família Nicola pode não ter certeza de seu sobrenome, mas de coragem para viver amor e romance... ah... disso entendemos muito bem.
terça-feira, 6 de julho de 2010
buona notizie

Mas o post de hoje é muito alegre... a Leila passou no vestibular pra enfermagem na Puc. Essa minha prima tão batalhadora, que tem dois filhos na faculdade, resolveu que era tempo de contribuir com ela mesma e aprender algo que a faz feliz.
Muito bem Leila, os bisnonnos, com certeza, iriam se alegrar. Avanti pima... vamos conquistar os diplomas e as cátedras.
PS: agora, cá pra nós... a leila tá muito inteligente ou a puc tá ruim de vestibular...hahahaha...
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Maiochi camisa vermelha

A lista, com 1.089 pessoas, fornecida pelo Ministério da Guerra italiano, foi publicada no "Giornale Militare" em 1864, como resultado de um inquérito do Comitê Estadual, que queria determinar, através de provas e testemunhas, os nomes dos voluntários que realmente desembarcaram em Marsala (Sicilia) em 11 de maio de 1860. Confira a lista no http://italiangenealogy.tardio.com/News/article/sid=25.html
A foto é de um dos camisas vermelhas, Giuseppe Barboglio, que usa uma rara medalha de Marsala (ou dos mil). O Maiocchi, nosso antepassado, provavelmente se vestia da mesma maneira.
domingo, 4 de julho de 2010
felice cumpleanno
Tia Maria ainda te abraça...Portanto, Chico, eu, egoisticamente, desejo que você viva muito, com saúde e resistência... pra que possa continuar me suportando e pra que eu continue te amando.
Tudo de bom ainda é pouco do que eu peço à Divindade que te proporcione.
Um beijo. Delma
quarta-feira, 23 de junho de 2010
De Angela para Annita e vice-versa... as jabuticabas no avental (texto de Francisco Braido)
Quem me contou esta passagem foi Nair, uma das filhas de Annita Loro, imigrante que chegou ao Brasil em 3 de março de 1897. Annita era vizinha de minha bisavó Angela Da Re, na Vila Cruz, lá pelos anos 1950-60. A bisa morava na casa de esquina da rua Champagnat. Annita do outro lado da mesma rua.
Ela conta: "Eu estava grávida do Lourival e na casa da frente tinha um pé de jabuticaba. As italianas usavam aquele vestido comprido e sempre um avental. A dona Angelina fez do avental uma sacolinha e foi me levar jabuticabas. Ela me disse que estando eu grávida não poderia ficar com vontade e que a criança tinha que nascer bem".
Gentileza feita, a bisavó retornou para casa. Mas, no meio do caminho tinha uma pedra (como dizia Drummond) e ela caiu na rua. Annita rapidamente foi ao seu socorro, ajudou-a a levantar e foi com ela até a casa. Tão gentil como o fora Angela minutos antes. Duas mulheres se socorrendo, apesar das diferentes situações.
São os episódios da vida, simples, mas que demonstram pequenas gentilezas com o próximo, tão raras hoje em dia.
É bom lembrar da bisavó Angela assim, generosa e prestativa, carregando jabuticabas no avental...





