Porque lembrar é preciso...

Porque lembrar é preciso...
"Partire è un pó morire", dice l’adagio, ma è meglio partire che morire, aggiunge Carrara. ("Partir é morrer um pouco", diz o adágio, mas é melhor partir do que morrer, retruca Carrara.)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Preghiera


Depois de tanto tempo sem postar por aqui, consegui fazê-lo (confesso que não sei como, pois tinha perdido a senha e não conseguia recuperar).

Tenho umas histórias guardadas na gaveta da memória e do computador, que logo vão se transformar em postagens para este blog. Mas, hoje, nesta terça-feira de carnaval-sem-folia, quero repartir com minha família um achado que me foi dado pelo Rafael Zanetti (moço maluco que adora genealogia e é parente de longe, mas não muito). Ele generosamente me mostrou uma oração que era rezada pela família Zanetti. Antes, preciso dizer que descobrimos (eu e Chico) os parentescos com os Zanetti, ligados a minha bisnona Santa Zanetti (nascida Santa Matilde), casada com o bisnono Luigi Da Ré. Segundo o Rafael, a irmã dela Elisabetta (sim, ela tinha muitos irmãos) costumava rezar essa prece, portanto, deve ter aprendido com os pais. Assim, as palavras bentas podem nos servir de estímulo para relembrar a memória espiritual destas mulheres, que além de todas as tarefas diárias, também juntavam as mãos e os familiares para pedir bênçãos. Porque a vida não era fácil.

Oração da família Zanette (rezada por Elisabetta Zanetti Camilot) e provavelmente pela bisnona Santa e o biso Luigi, porque ele era das preces e espiritualidades. 

 

Buon Dio, signore Dio, Madonna Benedetta

Tutti i buoni cristiani che mi han dato questa notte

Domando grazia, Signore, dammi anche un buongiorno se a Dio e Maria piaccia.

Gesù, Giuseppe e Maria vi dono il cuore e l'anima mia Gesù bambino, ami così.

Ecco,Signore Dio, (la) nostra famiglia è con voi.

 

(Bom Deus, Senhor Deus, Santíssima Madona

Todos os bons cristãos que me deram esta noite

Peço graça, Senhor, dê-me também um bom dia se Deus e Maria gostarem.

Jesus, José e Maria eu te dou meu coração e minha alma Menino Jesus, você ama assim.

Eis, Senhor Deus, nossa família está com você)

 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"il dichiarante" (o declarante) - texto de Francisco Braido

Cresci na casa da vó Maria, nascida Maiochi e empossada Passoni. Ela era uma daquelas pessoas que adorava as histórias de família. Não tinha preguiça quando eu, na minha curiosidade, a questionava sobre seus pais e a vida na fazenda. Várias vezes, na cozinha, tomando café, eu a escutava e viajava na suas histórias das pessoas e de como era duro o trabalho na roça. Em todas as conversas notava sua emoção, seus olhos brilhavam. Um misto, talvez, de alegria por lembrar de pessoas queridas e tristeza de uma vida de muito trabalho e privações.
Nas nossas conversas era comum a nona mencionar algumas famílias, como os Mapelli, Dal'ava, Bruschi, entre outras.
De todos lembrados por ela, até hoje nunca esqueci a ênfase destinada aos Mapelli. Talvez, porque a família Passoni mantinha com eles estreitos laços de amizade e união.
Quando iniciamos a busca de nossos parentes, eu e a prima Delma,
também nascida Passoni Maiochi, mas que no fundo tem o sonho de ser Braido, nos deparamos com situações, no mínimo, curiosas e engraçadas.
Jamais poderia imaginar que um cidadão Mapelli exercia um encargo tão nobre na época: ser declarante e testemunha dos inúmeros nascimentos, batizados e casamentos ocorridos nas fazendas. Seu nome era Luiz.
Na maioria dos assentos da família Passoni (e até dos De Ponti/Nicola), encontramos: Declarante o
senhor Luiz Mapelli; Testemunha Luiz Mapelli; Padrinhos Luiz Mapelli e esposa.
Delma e eu nos encontramos semanalmente para dividir descobertas, e até mesmo para tratar de coisa séria, tudo isso regado a muito café. Ela é bem mais organizada que eu, e quando lança de sua bolsa seus cadernos de anotações, sai de baixo! Muitos registros aparecem, consequentemente, o nosso declarante preferido também.
Ao imaginar como deveria ser, as brincadeiras surgem. Ficamos imaginando como seria a conversa antes de chegar ao cartório. O sr. Luiz Mapelli, na porteira, com o seu "papelli", olhando
para seu relógio de bolso, imaginando se havia nascido alguém naquele dia, para que ele pudesse ir ao cartório e fazer o registro. Ou então, ele indo até a casa dos vizinhos dizendo, com aquele sotaque italiano pouco inteligível: "ô cumpadi nasceu quantos aí? Já registrou? Mas, pelo tanto de assentos que aparecem seu nome, surgiu até a possibilidade dele ter uma mesa cativa no cartório para que sempre fosse o declarante.
Os registros naquela época eram feitos "por pacotes". Depois de nascidos dois, três, quatro filhos é que se lembrava que era necessário registrar. Aproveitava-se a ida de alguém ao cartório e essa pessoa levava o encargo de registrar todos de uma vez. É assim que o nome de Luiz Mapelli aparece seguidas vezes em vários registros de igreja ou cartório. Recentemente, encontramos em São Sebastião da Grama seu último descanso. Tomara que em seu óbito conste como declarante um dos Passoni, numa sincera troca de favores. O último. Portanto, sr. Luiz, registro aqui uma singela homenagem ao seu trabalho de deixar documentado os acontecimentos de nossa família. Assim, nos foi possível encontrá-los e recontar suas histórias.
Ao cartório, cumpra-se!

Livros antigos do cartório de Caconde-SP

domingo, 10 de outubro de 2010

O vestido do caminho

O que pode ser quase tão importante para uma moça quanto um vestido de noiva? Para as jovens que moravam nas fazendas outra peça de roupa era pensada e produzida com igual carinho para o grande dia: o vestido do caminho.
O ritual do dia do casamento na zona rural, no tempo jovem de minha mãe e tias, era muito parecido com o das noivas da cidade. Exceto que as moças das fazendas precisavam fazer um longo caminho até a igreja. O transporte costumava ser cavalo, charrete, caminhão, às vezes até a pé. Na estrada, muita poeira ou barro. Não dava pra colocar o vestido de noiva em casa. Para transpor o último trecho que separava a menina-moça da mulher-casada era usado o ‘vestido do caminho’.
Eu imagino as conversas entre a noiva e as primas e amigas, enquanto capinavam as ruas de café ou mesmo no longo trecho para levar o almoço aos que tinham madrugado na lavoura. O tecido, a cor, os detalhes, botões, bordados... um pouco de ternura no meio do trabalho e da difícil lida da roça.
Minha mãe me disse que o vestido dela era cor-de-rosa com pregas, de seda. Quem costurou foi Inês Mapelli, que morava no Campestrinho. Soutien e calcinha, bordados, eram feitos em casa. Depois, a roupa foi usada para ir a algum passeio ou ocasião especial.
Tia Antonia lembrou que o dela, também cor-de-rosa, foi feito pela sua tia Henriqueta Da Ré. O destino dele foram as missas de domingo.
Seda, tafetá, véu e grinalda, flores de laranjeira (acreditem, eram de verdade, colhidas no pomar quando a estação permitia), sapato novo, alianças... delicadezas de moças, sonhos de meninas, momentos cor-de-rosa em meio às cruezas da existência. E ainda, supremo luxo, com direito a meia de seda fina.
Ao colocar o vestido do caminho, a moça sabia que sua vida estava mudando. A roupa nova era o início de outras responsabilidades, tarefas e comprometimentos. O espelho refletia pela última vez a menina, que voltaria mulher, ainda naquele mesmo dia, para a casa do marido.

O terno do noivo, mais corriqueiro, era comprado na cidade. E as alianças, símbolo do encontro dos destinos daqueles dois jovens, iam, corredor de igreja adentro, aninhadas numa rosa de papel forrada com tecido.
Simples como eles, lavradores. Bonito como os dois corações nervosos com a cerimônia de casamento. Profundo, como a terra que aravam.

sábado, 4 de setembro de 2010

A partilha


Alfredo e Thereza e a casa deles na Santa Alina

Meu tio-avô Alfredo Passoni, diferente de quase todos da família, casou-se com alguém com outro sobrenome. A morena Thereza Zaghi, de São Sebastião da Grama, chamou sua atenção e ele resolveu fugir da tradição de desposar primas. Era 1926. Ele tinha 22 anos e ela 19. Casaram-se na antiga matriz de Poços e foram morar na fazenda Santa Alina. A vida dos dois, assim como a de todos na zona rural, era de muito trabalho e pequenas alegrias. Alfredo saía bem cedo pra se juntar aos irmãos e cuidar da plantação de café. Thereza fazia as tarefas da casa, da horta, dos pequenos animais e de um jardim talvez. E, claro, cuidava das crianças, que nasciam sempre. Tiveram nove filhos. Depois de 19 anos juntos, uma doença chamada paratifo separou Alfredo de Thereza. Ele morreu em 1945, na fazenda, com apenas 42 anos. Minha mãe diz se lembrar dele, acamado, seu corpo grande sofrendo com dores. Ela conta que ele era um homem bom, que cuidava bem da família.
A Thereza restaram a dor, as lágrimas, a solidão e nove pares de olhos que buscavam entender o que acontecia. O que fazer para o sustento de todos?
Depois de muito pensar Thereza chegou à única, e dolorosa, decisão que poderia tomar: deixar os filhos com os cunhados e a sogra (minha bisavó Sophia). Ao menos ficariam resguardados e poderiam crescer em segurança.
E assim foi feito. Pelo que me contam a partilha da família Passoni-Zaghi ficou assim: Osmídia foi criada pelo meu tio-avô Isidoro, Maura pelo André Passoni, Iracema e Isaura pelo meu tio-avô Ambrósio Passoni, Isolina pela Leontina, Zeca pelo meu tio Luiz Nicola, Mané pelo meu tio-avô Paschoal Passoni, Benedito pelo meu avô Ernesto Nicola. Da filha Aurora não tenho conhecimento.
No assento de óbito de Alfredo consta que ele não deixava bens a inventariar. Mas tenho certeza que Thereza não pensava assim. Os bens mais preciosos que os dois podiam ter precisaram ser "partilhados". Quem os recebeu herdou um "pedaço" do ente querido que tinha partido. Quem os entregou morreu um pouco a cada despedida. Nem gosto de imaginar o último olhar da mãe para o filho que deixava. Portas se abriam em acolhida e seu coração se trancava na tristeza.
Eu não tenho os detalhes desta história, sempre a ouvi da maneira que descrevi. Ninguém me contou como foi para aquela mulher perder a família inteira num piscar de olhos. Quantas noites passou sem dormir naquela cama vazia de Alfredo e cheia de aflições. Corajosa tia Thereza! Ela foi embora da fazenda, parece que para São Paulo, junto com uma das filhas. Não se soube mais dela. Há uns dias o Chico me disse que ela tinha falecido em Vinhedo em 1981. Longos 36 anos depois foi se encontrar com Alfredo. Finalmente pode descansar a cabeça em seu ombro se sentir reconfortada.

sábado, 28 de agosto de 2010

Ramoscelli intrecciati (ramos entrelaçados)


Eu inventei de brincar de árvore genealógica e comecei a montar uma num site que encontrei na net (www.myheritage.com.br/site-family-tree-99872073/familia-delma-maiochi). Achei que seria uma boa ideia colocar em ordem as datas e nomes que tinha espalhado em pequenos papéis enfiados na minha pasta "dos antigos"... poxa, e não é que tava dando certo!? Os galhos floresciam e as folhas ficavam suculentas de informações.

Foi então que comecei a reparar que tinha uma boa quantidade de nomes repetidos...

Pensei: putz, já fiz cáca, coloquei duas vezes a mesma pessoa em lugares diferentes. E dá-lhe conferência... mas estava tudo certo. Aí entendi que, obviamente, os casais tendiam a se repetir nos galhos familiares quando dois irmãos casavam-se com duas irmãs... até aí tudo bem. Mas, o fato ocorria com uma frequência estranha e resolvi checar melhor. Então, pasmem, descobri que meus familiares são mais "collegati" (conectados) que eu imaginava. O entrelaçamento entre os membros da mesma família é algo surpreendente. Chega a ser confuso o emaranhado de um mesmo sobrenome. Na certidão de casamento de minha bisavó Sophia apenas o tabelião não era Passoni. Quer dizer, isso porque eu não procurei mais profundamente, vai saber? Tenho a impressão que se um de nós precisar de transplante de medula (livra-nos desse mal) vai encontrar vários bons doadores debaixo do mesmo teto.

Vou lançar um desafio pra minha bióloga-de-plantão Elisa: que tal descobrir a semelhança de nossos tipos sanguineos? Ei, Elisa, dá até uma tese de mestrado!!!
Nesse esmiuçar de galhos ancestrais pude constatar como somos próximos (em sangue e certidões). Um verdadeiro ajuntamento, ousaria dizer que, com o perdão dos puristas, somos uma "etnia" não mais muito agrupada. Não tem como olhar para meus parentes sem enxergar a longa e espessa árvore que nos une.
E também isso me ajudou a entender a alegria de "pertencer". Não posso mais sentar no colo da bisa Sophia, nem abraçar o bisa Amilcare, muito menos vou poder dizer: como é bom ter seu sobrenome, nono Luiz. Mas, posso ainda desfrutar do colo da minha mãe, do beijo da tia Antonia, dos abraços dos meus inúmeros "pimos e pimas". Eles representam vivamente essa conexão com meus antepassados, fortes no sentimento de afinidade e de pertença. Fazemos parte um do outro, os bisnonos se encarregaram de dar início à construção de nossas identidades, encadeando os genes e, principalmente, os sobrenomes.


Confiram comigo o "cipó" que nos permitiu nascer. E ainda não cheguei nem na metade, porque o cérebro dá nó, acreditem!


Passoni - Sophia casou-se com seu primo Luiz. O filho Ambrósio casou-se com a prima Estela. A filha Maria casou-se com o primo Santo (irmão de Estela). A filha Roza casou-se com o primo André. Então, todos os cônjuges dos filhos, que já eram sobrinhos, tornaram-se genros e noras do casal Sophia e Luiz. Todos eles são meus tios-avós. Duas vezes!!

Nicola - A filha de Sophia e Luiz, Tereza Passoni, casou-se com Ernesto Nicola. Ernesto era irmão de João, que se casou com Diamanta Passoni, que era sobrinha de Sophia. Portanto, Diamanta tornou-se, além de prima, cunhada de Tereza. A Diamanta seria minha tia-avó e também uma prima de uns graus (se fosse etílico estaria bêbada).


Maiochi - Maria Maiochi, irmã de meu pai José, casou-se com Paschoal Passoni. Paschoal era tio de minha mãe Idalina. Maria, então, era ao mesmo tempo tia e cunhada de minha mãe. E a relação comigo? Hummm... tia duas vezes? três vezes? Deve ser por isso que gostava tanto dela...
Meu pai José Maiochi casou-se com minha mãe Idalina Nicola. O irmão dele, Roque, casou-se com a irmã de minha mãe, Lourdes. A irmã de meu pai, Antonia, casou-se com o irmão de minha mãe, Luiz. Dava troca de bebê na maternidade, não dava?

Capisci quello che digo?

domingo, 8 de agosto de 2010

...eu nasci no mês de agosto, mês da flor do ipê...



Agosto é mês de aniversários em minha família. E a abertura das comemorações, até onde eu saiba, começa com a Leila. Aquela que jogava água no bumbum do nono e levava choque no dedinho por causa do irmão. Ela nasceu num dia dos pais e realmente foi a alegria da casa. Chegava uma menina. Tia Lourdes tirou da memória o nome Leila (que em árabe significa negra como a noite) antes de olhar a brancura de leite que era sua filha. E ainda complementou com o religioso Fátima, em honra d'Aquela que a amparou no parto. Tio Roque deu o sobrenome e estava completa a criatura mais falante que eu conheci. A nona Angela não teve a oportunidade de colocar a Leila debaixo da cama, como fizera com o Zé, pois já tinha ido embora pro céu. Ela dizia que pôr o bebê debaixo da cama fazia ele ficar calmo na vida. Hummmm.... sei não! Nunca saberemos se ia dar certo com a minha elétrica prima. Inquietação é seu sinônimo, sempre falando, fazendo alguma coisa, se movimentando. E tudo acompanhado de sorrisos e bom humor, outra característica marcante da nossa "negra como a noite".
E, assim, há 45 anos ela enfeita a árvore genealógica de minha família. Sempre de pé em cima do "galho", falando e sorrindo pra deus-e-o-mundo.
Parabéns, Leila! Que a vida te seja sempre de oportunidades.
Ah, antes que eu me esqueça: quem ajudou o padre a jogar água na cabeça daquela menina que esperneava na hora do batismo foi o tio César e a tia Venilda.
E, Leila, o Drummond mandou um recado: "São mitos de calendário/tanto o ontem como o agora,/e o teu aniversário/é um nascer a toda hora."

Beijo embrulhado em abraço nos ventos e ipês de agosto.

Patriarchi (patriarcas)


Amilcare Maiochi, Luigi Da Re, Luigi Nicola, Antonio Passoni, Francesco Braido, Antonio Cancian... nossos primeiros pais, patriarcas de nossa grande família, essa árvore de galhos grossos e inúmeras folhas. Reverenciamos sua memória neste dia considerado o dos pais. Deles herdamos o sangue, os genes, a raça, a determinação de cruzar o oceano, a coragem de deixar as origens e construir nova vida num lugar estranho. Deles herdamos o suor na plantação, as mãos nodosas, a alegria e o cansaço da lida no fim de tarde.
Deles herdamos o cheiro da florada do café, a bênção da chuva e o calor do sol na arrebentação dos frutos, o choro do carro de boi, a aspereza da palha do milho, as grandes caminhadas entre as fazendas.
Com eles herdamos o direito de estar nesta terra, de constituir família, de dar continuidade a sua descendência. Esses nossos pais não são lembrados em monumentos, estátuas e, alguns, nem mesmo em fotos. Mas os guardamos em nossa memória e sentimos, num fechar de olhos, suas mãos abençoando nossas cabeças...



quinta-feira, 29 de julho de 2010

Foi-se o Zé


“Essa divisória que nos separa do mistério das coisas a que chamamos vida” (Victor Hugo)

O menino sapeca morreu. Aquele que arrastava o saquinho de pão na enxurrada em frente da igreja da Vila Cruz. Aquele que mesmo de castigo comia as bananas que a mãe tentava deixar amadurecer. Era meio parente de Pedro Malasartes... empurrava a irmã pequena na escada, colocava o dedinho dela no soquete que dava choque... Era o terror da rua...
Mas tinha o coração grande de ternura. Subia na jabuticabeira pra apanhar as frutas grandonas pra mim. Ele sabia que a prima gordinha não conseguia chegar nos galhos mais altos. Na brincadeira de pique-esconde sempre me mostrava um lugar mais difícil de ser encontrada naquele grande quintal cheio de pés de milho.
E nunca me deixou voltar pra casa sozinha dos bailes e festinhas... tomava conta da prima adolescente como se fosse a irmã.
O menino sapeca morreu. Mas deixou para a vida a Vanessa, a Jaqueline, o Diego, o Gustavo e o Bryan.
Uma pequena grande família para guardar a sua memória e descendência.
Ele foi sepultado junto aos seus. A mãe, o tio Zé, a tia Maria, o tio Paschoal, os avós e a pequena Bia. Muito bem acompanhado para não perder o caminho que nos faz chegar ao outro lado. Pra nós, a saudade. Pra ele, um recomeço.
E como diz o pequeno neto Gustavo: ‘o vovô Zé virou estrela e o vento levou ele lá pra cima’.
Então, toda noite estrelada vai ser momento de encontro a partir de agora.

domingo, 18 de julho de 2010

Saudade




O poeta Tagore diz que a fé é o pássaro que sente a luz e canta quando a madrugada é ainda escura.
Eu sei que meu pai já viu a claridade do amanhecer de outro lugar e que sua fé o acompanhou na transmutação da vida. Só o que não sei é o que fazer com sua falta, com a saudade que não fica amenizada nem um pouco com o tempo que passa...

"Entre a vida e a morte há apenas
o simples fenômeno
de uma sutil transformação.
A morte
não é morte da vida.
A morte não é inação, inutilidade.
A morte é apenas a face obscura,
mínima, em gestação
de uma viagem que não cessa de ser.
Aventura prolongada
desde o porão do tempo (...)

A morte não é morte da vida: apenas
novas formas de vida.
Nova utilidade.
Outro papel a desempenhar
no palco velocíssimo do mundo.
Novo ser-se e não se pertencer.
Nova claridade, respiração, naufrágio
na máquina incomparável do universo."
(Vida Sempre - Casimiro de Brito)






domingo, 11 de julho de 2010

Tenho saudade da minha infância (texto de Vânia A. Nicola de Ponti de Oliveira Brito)


Lembro-me quando era criança e morava com meus avós maternos Joana Facci e Maurilo Nicola em São Roque da Fartura, pequena comunidade depois da divisa de Poços de Caldas.
Mais que avós, eles foram meus pais. O tempo da infância na casa ao lado da bica d’água foi feliz, com direito a canequinha de alumínio para apanhar amora e chupar laranja-lima no pé.
Meu avô era bravo, carrancudo, mas o coração tinha gestos amorosos, como o de colocar capim na sala para o ‘burrinho’ do papai Noel e deixar lá um presente de Natal.
Eu era a princesa paparicada, talvez por ser a mais velha dos irmãos (Donizeti e Paulinho) e também a única neta, filha da única filha Terezinha.
Fiquei com a vó Joana até meus 10 anos, quando meus pais se mudaram para Vargem Grande do Sul. Naquele dia de despedidas ela chorou muito. Eu também.
Vô Maurilio era um homem muito bom. Numa época em que meu pai (Edson Lopes) viajava bastante, ficava meses fora de casa, ele e vó Joana foram a nossa base para nossa educação e formação.
Depois crescemos, mudamos para Poços, casamos, tivemos filhos. Mas vô e vó sempre foram referências.
Anos mais tarde, quando eles vinham nos visitar, principalmente na época de Finados, vó Joana trazia uma linda cesta de palmas que plantava especialmente para a ocasião. Enfeitava com carinho o túmulo dos pais dela (Angelo Facci e Adelia Rossi) no cemitério da saudade, que ainda visitamos e cuidamos. E meu avô, achando que a gente continuava criança, nunca se esquecia de trazer doces.
Hoje, aos 46 anos, família formada, me pego pensando nos bons tempos em que podia sentar no colo dos avós.
São tantas as lembranças boas deles que se fosse escrever todas daria um livro. E dos bonitos. Sinto muita saudade, mas ficaram as lembranças daquele tempo bem guardadas na memória e no coração.
Então, aproveito esse espaço que a Delma criou pra nossa família e deixo o meu carinho para meus pais, meus irmãos e, principalmente, meus queridos avós. Agradeço também a tia Idalina, que tanto nos ajudou quando mudamos pra cá. A Delma é uma pessoa muito querida pra mim, é minha amiga e minha prima. Quantas vezes saímos juntas e depois dormia na casa dela (lembra Delma?).
Temos, eu e meus irmãos, muito orgulho de pertencer aos Nicola e sermos netos do vô Maurilio. Eu e meu marido (Marcio) sempre ensinamos nossas meninas Jéssica e Mariana que não podemos esquecer nossas verdadeiras raízes.
E estamos aí para o que der e vier, esta frase é bem a minha cara mesmo. Estamos aí vida, vamos enfrentar todos os problemas de cabeça erguida! Abraços a todos!

"E amizade dada é amor." (Guimarães Rosa) Para o dia de anos do Daniel


"Não é que o mundo seja só ruim e triste. É que as pequenas notícias não saem nos grandes jornais. Quando uma pena flutua no ar por oito segundos ou a menina abraça o seu grande amigo, nenhum jornalista escreve a respeito. Só os poetas o fazem." (Rita Apoena)

Pois então, Dani, seu aniversário não está nos jornais, nem nos programas de rádio ou TV e nenhum mensageiro proclamou no meio da praça. Mas no "anonimato" do meu coração ele é anunciado sempre que leio um poema e desejo compartilhar com você. Portanto, aqui dentro do meu peito é seu aniversário todo dia.
Desejo oito segundos de pena flutuante toda vez que você ganhar um abraço de amigo.


sábado, 10 de julho de 2010

e il nome è... (e o nome é...)

igreja de Romprezzagno

De vez em quando os papéis antigos que encontramos nos pregam peças. Você tem certeza do que vai encontrar, desdobra sem nem pensar e.... surpresa!

Foi assim quando recebi a certidão de nascimento do meu nono Luigi Maiochi. Lá estava um Mario inesperado e completamente desconhecido. Virei pro meu pai: você sabia que seu pai chamava Mário? E ele me olhou, inocente: Não! Ele chamava Mário? Acho que ele também não sabia.

Tive que rir.

Agora, há menos de uma semana, o Francisco (primo Chico pros familiares) me vem com mais uma novidade. Olhando a certidão de óbito do nosso bisavô Amilcare, pai do Luigi-que-também-era-Mário, percebeu que havia uma anotação judicial corrigindo o registro. O Chico conseguiu desencavar o documento de batismo do bisnono e então soubemos seu verdadeiro nome, além do lugar correto de nascimento e os pais.

Ele nasceu em Romprezzagno, município de Tornata, província de Cremona, Lombardia, Itália, em 29 de janeiro de 1862 e foi batizado no dia 30 de janeiro de 1862. Seus pais Giuseppe Maiocchi e Rosa Galetti escolheram chamar o nosso bisnono de Amilcare Francesco Maria Maiocchi. E fizeram um pacto com o padre Bruno Frassi, da pequena igreja de San Francesco: nessuno saprà il nome del bambino (ninguém iria ficar sabendo o nome do menino)... nem ele.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

“Não há amor sem coragem” – a história com final feliz de Romeu e Julieta em São Roque

O domingo daquele mês de julho amanheceu frio e parecia até que tinha geado um pouco. Mas logo o sol tomou conta da paisagem e todos puderam desfrutar do dia de folga. Desde logo cedo o coração de Lúcia estava apertado e sua mente só pensava no que ia acontecer logo mais à tarde. Apesar de ter combinado tudo com o noivo Manoel, ainda ficava apreensiva de que alguma coisa não desse certo. Será que ele tinha falado com o motorista? Será que ela devia levar uma troca de roupa? Não, isso não. Poderia levantar suspeita e nem seu pai nem sua mãe podiam saber que os dois planejavam fugir para casar. E agora que eles tinham resolvido, o melhor era ficar calma e rezar pra que tudo desse certo. Aliás, era o que ela mais faria na missa das 5h... pedir a proteção de Nossa Senhora.
O dia passou lento e parecia que o sino da igreja não ia tocar nunca chamando os fiéis para a celebração. Finalmente, despediu-se da mãe e, com os olhos cheios d’água, tomou o rumo da igreja. Seu destino começava a ser selado...
Essa história real, que eu pintei com algumas cores imaginárias, pertence ao coração da minha prima Lúcia Nicola e de seu esposo (já falecido) Manoel Esteves. Eles moravam em São Roque da Fartura quando se conheceram e se gostaram. Namoraram durante oito anos, faziam planos de casamento, até já tinham comprado alguns móveis.
Mas alguns empecilhos familiares impediam que os dois concretizassem o sonho do matrimônio. Assim, foram deixando os anos passarem até que sentiram que não dava mais para esperar. Planejaram fugir para se casar em Águas da Prata e o fizeram naquele domingo depois da missa. Tinham certeza do amor que os unia, porque era uma decisão sem volta. Uma vez que o pequeno povoado descobrisse a fuga seria um escândalo se não oficializassem a união. Chegando a Águas da Prata, hospedaram-se no hotel São Paulo e se prepararam para a noite mais longa de suas vidas. Estavam sozinhos, mas era como se não estivessem... os olhares dos pais assombravam as paredes do pequeno quarto e os deixava inquietos. O amanhecer os encontrou de olhos abertos, cansados de andar de um canto a outro, de espiar a janela pra ver se alguém chegava pra buscá-los. E vieram. O pai dela e o pai dele tinham ido cumprir a última parte do ritual de fuga: acompanhar os dois até o cartório e assinar o documento que finalmente os libertaria do eterno namoro e os tornaria unidos para sempre.
E assim foi... 1º de agosto de 1967... Lúcia e Manoel desenharam suas assinaturas com mãos trêmulas naquele livro de registro que também guardava outras histórias como a deles. E, diferentes de Romeu e Julieta de Shakespeare, viveram felizes enquanto puderam.
Assim, eu chego à conclusão que a família Nicola pode não ter certeza de seu sobrenome, mas de coragem para viver amor e romance... ah... disso entendemos muito bem.

terça-feira, 6 de julho de 2010

buona notizie


O assunto foge um pouco do propósito do blog... mas acho importante registrar os acontecimentos das nossas famílias, mesmo aqueles recentes. Aliás, deixo o convite: quem tiver alguma notícia e quer que seja postada aqui, mande... vai ser muito bom repartir o que acontece conosco, alegre ou triste.
Mas o post de hoje é muito alegre... a Leila passou no vestibular pra enfermagem na Puc. Essa minha prima tão batalhadora, que tem dois filhos na faculdade, resolveu que era tempo de contribuir com ela mesma e aprender algo que a faz feliz.
Muito bem Leila, os bisnonnos, com certeza, iriam se alegrar. Avanti pima... vamos conquistar os diplomas e as cátedras.
PS: agora, cá pra nós... a leila tá muito inteligente ou a puc tá ruim de vestibular...hahahaha...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Maiochi camisa vermelha


Giuseppe Garibaldi, o guerrilheiro italiano, ficou conhecido como o “herói de dois mundos” por sua atuação em conflitos na Europa e América do Sul. Em 1860, ele iniciou a Expedição dos Mil (Spedizione dei Mille), em busca de libertar o sul da Itália e reunificar o país. Ele não é da nossa família (pelo menos até onde sabemos), mas está sendo citado neste blog porque, entre os camisas vermelhas (camice rosse) que lutaram na Sicília com Garibaldi estava Achille Maiocchi, nascido em Milão, filho de Giovanni Maiocchi. Além de representantes das famílias Mapelli, Basso, Piva e Zanetti, nomes conhecidos por aqui na convivência nas fazendas. O revolucionário Garibaldi, que dedicou sua vida ao combate à tirania, conseguiu atrair esse nosso remoto parente para suas ideias libertárias, colocando nos registros da História o sobrenome que os bisavós trouxeram com tanto orgulho para o Brasil.
A lista, com 1.089 pessoas, fornecida pelo Ministério da Guerra italiano, foi publicada no "Giornale Militare" em 1864, como resultado de um inquérito do Comitê Estadual, que queria determinar, através de provas e testemunhas, os nomes dos voluntários que realmente desembarcaram em Marsala (Sicilia) em 11 de maio de 1860. Confira a lista no http://italiangenealogy.tardio.com/News/article/sid=25.html
A foto é de um dos camisas vermelhas, Giuseppe Barboglio, que usa uma rara medalha de Marsala (ou dos mil). O Maiocchi, nosso antepassado, provavelmente se vestia da mesma maneira.

domingo, 4 de julho de 2010

felice cumpleanno

Tia Maria ainda te abraça...


Deixo registrado, com muito carinho, o aniversário do meu primo-irmão-companheiro-camarada Francisco, nascido Braido, mas com sangue e coração de Passoni, Cancian, Maiochi, Malinverno e quem sabe (ainda estou investigando) Nicola-De Ponti. O Chico é uma dessas pessoas fantásticas que acontecem na vida da gente. Ele não é apenas meu parente, ele é meu amigo... daqueles cujo ombro comporta a minha cabeça, as minhas alegrias e tristezas. É nos olhos dele que eu vejo a minha felicidade quando descubro alguma pista dos antepassados, alguma foto que eu queria tanto, o documento velho escondido no cartório lá da bella Itália.
Portanto, Chico, eu, egoisticamente, desejo que você viva muito, com saúde e resistência... pra que possa continuar me suportando e pra que eu continue te amando.
Tudo de bom ainda é pouco do que eu peço à Divindade que te proporcione.
Um beijo. Delma



quarta-feira, 23 de junho de 2010

De Angela para Annita e vice-versa... as jabuticabas no avental (texto de Francisco Braido)

Talvez o que mais havia entre as famílias imigrantes era a cooperação e o respeito entre elas. Tudo devido à mesma história de separação entre a terra natal e a outra que escolheram para viver, sem falar na vida de muito trabalho.
Quem me contou esta passagem foi Nair, uma das filhas de Annita Loro, imigrante que chegou ao Brasil em 3 de março de 1897. Annita era vizinha de minha bisavó Angela Da Re, na Vila Cruz, lá pelos anos 1950-60. A bisa morava na casa de esquina da rua Champagnat. Annita do outro lado da mesma rua.
Ela conta: "Eu estava grávida do Lourival e na casa da frente tinha um pé de jabuticaba. As italianas usavam aquele vestido comprido e sempre um avental. A dona Angelina fez do avental uma sacolinha e foi me levar jabuticabas. Ela me disse que estando eu grávida não poderia ficar com vontade e que a criança tinha que nascer bem".
Gentileza feita, a bisavó retornou para casa. Mas, no meio do caminho tinha uma pedra (como dizia Drummond) e ela caiu na rua. Annita rapidamente foi ao seu socorro, ajudou-a a levantar e foi com ela até a casa. Tão gentil como o fora Angela minutos antes. Duas mulheres se socorrendo, apesar das diferentes situações.
São os episódios da vida, simples, mas que demonstram pequenas gentilezas com o próximo, tão raras hoje em dia.
É bom lembrar da bisavó Angela assim, generosa e prestativa, carregando jabuticabas no avental...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Família Braido: “filius di Vittorio” (texto de Francisco Braido)

brasão da cidade de Vittorio Veneto

Caro leitor, se você não entendeu e estranhou o título não se preocupe. Quando se inicia um trabalho de pesquisa sobre família, muitas coisas jamais serão entendidas, e devemos somente aceitá-las. Faz parte da história de cada familiar que nunca iremos ou poderemos mudar.
Depois de ler estas linhas, creio que entenderão o título.
Desde 1994 que busco referências sobre meus ascendentes Braido e, entre encontros e desencontros, posso dizer que estou na estaca zero. Porém, entendo que estou no caminho certo, mesmo passados mais de 16 anos de busca.
Quando iniciei a pesquisa, a primeira coisa foi buscar naquela velha caixa de documentos, no guarda-roupa, os "papéis velhos". Isso mesmo, muitos se referem aos documentos como simples papéis. Lá encontrei certidões com as primeiras informações, avós e bisavós. O segundo passo foi procurar a nona, e não é que a coisa fluiu? Pelo menos com um dos ramos de minha família. Quantas saudades da vó Maria Maiochi!
Bem, voltando aos Braidos, sobre eles quase nada, apenas alguns nomes - Jácomo, Francisco e Magdalena. Algum tempo depois apareceram João, Bepe, Maria, Ana (difícil tradução no documento que descrevia uma tal de Ometa), Catarina e outro João.
Procurei meus tios para contarem o que sabiam. Fui agraciado com uma foto amarelada, lá estavam o bisavô Francesco, com o bigode do típico italiano e o chapéu, sua esposa Magdalena e um dos filhos (tio Bepe, nas palavras da minha tia) com a mulher Angela. Quem me deu esta foto já não está mais aqui, e talvez fosse a única pessoa que poderia me ajudar neste quebra-cabeça.
Não satisfeito, fui procurar mais informações na internet. Naquela época, somente alguns sites de buscas, ainda não havia o "são Google". Verifiquei que muitos Braidos eram originários da cidade de Vittorio Veneto. Pensei que o caminho estivesse correto, já que esta cidade pertence à província de Treviso. Este nome já aparecia no documento de óbito do Francisco. No da Magdalena era província de Udine.
No próximo passo fiz um simples cálculo para descobrir uma data provável de nascimento e uma carta dirigida à prefeitura daquele município. Demorou, mas a resposta chegou. Não encontraram nenhum Francesco Braido em Vittorio Veneto.
Busquei novos horizontes de pesquisa, fui até São João da Boa Vista, cidade vizinha no interior paulista. Meu avô Jácomo nasceu lá. Mais de 10 livros de registros sobre a mesa me esperando, passei a tarde na Delegacia Seccional. Encontrei alguns integrantes da família Braido, assim como de outras conhecidas, mas nada que ajudasse. Outras cidades apareceram como referência, tais como Susegana, Codognè, Godega di Sant´Urbano, Treviso, Colle Umberto e tantas outras. Escrevi, e como sempre as respostas voltaram negativas.
Bom, então parti para outra família, os Passoni. Mais surpresas. Se um determinado Carlo Passoni, ao chegar ao Brasil, virou José, e se a família De Ponte virou Nicola, porque o senhor Francesco não poderia ter trocado de nome?
Eu já tinha listas de desembarque de vários Braidos, relacionei todos. O que mais se aproximava daqueles que eu procurava era um Pacífico Braido. Não dei a devida atenção a este imigrante, seria somente mais um registro?
Conversando com minha prima Delma, tomando um café lá no Sá Rosa (é sagrado este bendito ou maldito café), sempre com papel, caneta e calculadora na mão, fui alertado. Pode ser esse quem eu há tanto tempo procuro.
Como não tinha muitos dados, pesquisei os casamentos em determinado período. Não é que encontrei o matrimônio de uma Braido, filha do Francisco? Mas seria Francisco ou Pacífico? Ainda não sei... porém havia uma referência importante. Obviamente, o sobrenome estava errado, me deparei com uma Braz e não Braido. Grafia errada, mas pequena, perto do que já encontrei por aí. O que eu procurava estava lá. Animado, investi novamente.
Não tenho uma resposta definitiva ainda sobre a cidade de origem de minha família, ou mesmo sobre minha família, mas estou chegando lá.
De Francisco para Pacífico é um pulo. Se for, posso encerrar este pequeno e "trabalhoso ofício" certo que somos fiilius di Vittorio, ou se preferirem, num tom abrasileirado, os filhos de Vittorio Veneto.
É um mérito ser filho de Vittorio? Não, o mérito é encontrar suas raízes e respeitar aqueles que saíram de sua pátria para fazer em outra nação sua vida. Construir a outra história, a nossa história!

sábado, 19 de junho de 2010

nome, cognome, soprannome, tutti pari...(nome, sobrenome, apelido, tudo igual)


Umas das coisas mais engraçadas (e interessantes) deste meu andar em busca dos antepassados é conseguir decifrar o que está escrito nos registros da igreja, do cemitério e do cartório civil. Acostumada ao conforto dos documentos digitados, demorei para me familiarizar com a escrita quase rabiscada desses livros antigos. Algumas vezes, confesso, me deu vontade de chorar diante do inexplicável emaranhado de letras e em outras ocasiões ri muito do jeito com que foram grafados os nomes e localidades. Fico imaginando os bisavós chegando na igreja pra registrar o filho ou casar a filha. Era uma luta. De um lado o italiano semianalfabeto, mais acostumado com a enxada do que com a caneta, falando com sotaques e acentos uma língua toda própria. Do outro lado, o funcionário do cartório, o padre ou sacristão, que escrevia do jeito que escutava e nem sempre com 100% de boa vontade. O resultado é o que tento entender quando me debruço sobre o livro à procura do mistério da minha origem: letra bordada e nome desalinhado.
Eu e o Chico (Francisco Braido, pra quem não conhece), meu primo e companheiro nas desventuras genealógicas, anotamos algumas dessas discrepâncias.
Amilcare – Amilcar, Amilcarle, Amicare e, pasmem, Miguel
Maiocchi – Maichi, Maioqui, Manhocchi, Marrochi, Mayochi
Anna – Anita, Annita, Aneta, Ometa
Sacile – Satile, Sachire, Chachile, Cecile, Cecilia, Catile
Da Re – Daré, Dal Re, Del Re, Daret, De Ré, Dare
Braido – Braida, Braite, Bras, Braz, Braide, Brait
Dotta - Dota, Dotto, Dotti, Doto, Doti
Passoni – Passone, Passon, Passomi, Passoli, Pessoni, Passali, Bassoni
Malinverno – Malinverni, Maniverno, Malinberni,
Migot – Mingoit, Migott, Mingoiti
Pizzol – Pisol, Pizzola, Pisolo, Pizzoli
Zucato – Zocatto, Sucato
Móras – Moraes, Morais, Morás, Moro
Lappi – Lapis, Lape, Lapi
Cancian – Canciano, Canziano, Canzian, Cassiano, Cantiani, Cantiane, Alcanziani, Kanssian, Canssian
Taffarelli - Tafarel, Tafarelo, Tafareli, Taffarello
Giuseppina – Juseppina, Giusephina
Maddalena – Magdalena, Madalena, Maddalenna
Marrafon – Marrafão
Zanetti – Zanette, Zaneti, Zanethi, Zante
Bruschi - Brusque
Colombo – Colomba, Colombi
Baron - Baroni, Barroso
Giusepina - Jiusephina, Pina

quinta-feira, 10 de junho de 2010

o nome dela começa com L

A sapecagem das crianças ultrapassa todas as explicações psicológicas. Por que fazer uma arte sabendo que vai apanhar? Ainda mais quando o castigo viria através de uma mão grande e pesada como a do meu avô Bidin Maiochi. Mas não era assim que pensava a pequena menina de cabelos castanhos que morava naquela casa da Vila Cruz. Para ela, que nunca parou quieta, o que viria depois da brincadeira não importava muito. O interessante era ver o nono enfezado. Há dias ela esperava uma ocasião para colocar mais um plano em ação. Durante as tardes, o nono e dois de seus irmãos, Bepe e Carlo, sentavam-se num degrau da porta da sala da casa para conversarem. Ficavam lá bastante tempo, lembrando e rindo de coisas que nunca saberemos. Naquele dia tudo deu certo para as maquinações da menina: o pai não estava, a mãe cozinhava atarefada, o irmão mais velho tinha ido buscar qualquer coisa que o nono tinha pedido, o mais novo dormia quietinho no berço. Tudo perfeito. Pegou um copo cheio de água e deixou o líquido escorregar por debaixo da porta bem devagar... não esperou pra ver, mas escutou os xingamentos dos três velhos que se levantaram depressa com os fundilhos das calças molhados...